Desde que lançou “Jogos Mortais” (2004), filme que deu origem a maior franquia de terror da década passada, James Wan começou a ser visto pela indústria como o nome pop de maior potencial do gênero. No entanto, mesmo fazendo longas interessantes do estilo como “Sobrenatural” (2010), foi somente com o sucesso estrondoso de “Invocação do Mal” (2013) que o cineasta passou a ser reconhecido pelo público em geral e ganhou uma legião de fãs.
A trama se passa na Inglaterra, sete anos após os eventos do primeiro filme, quando Lorraine e Ed Warren vão até uma pequena cidade britânica ajudar uma família que está sendo atormentada por uma manifestação sobrenatural despertada através de uma das meninas da casa. Ao mesmo tempo, Lorraine tem visões e pressentimentos envolvendo sua filha e o próprio Ed, o que a deixa emocionalmente abalada para lidar com novos trabalhos. Principalmente quando toda investigação do caso aponta para uma fraude.
Inserindo então os personagens em meio a esses e outros dilemas, acompanhamos o momento conflituoso do casal e principalmente o drama vivido pela família inglesa destacada. O primeiro longa apostava em um estilo mais sutil e elegante, a condução de cena marchava lentamente e o principal elemento utilizado para causar medo era a atmosfera soturna e alguns ruídos característicos das obras do diretor.
Em “Invocação do Mal 2”, tudo desde o início parece muito claro e gráfico. A ideia é passada de maneira mais “gritada”. O uso de jumpscares – algo muito criticado no terror atual – é constante e a aparição dos fenômenos sobrenaturais não é medida, surgindo na presença de policiais ou mesmo na frente das câmeras. Ou seja, temos uma produção tão genérica quanto tantas outras contemporâneas do estilo, certo? Errado! O caso aqui é exatamente oposto e, ao contrário do que se pode pensar, tal empreitada constata ainda mais o total domínio de James Wan no gênero em questão.
A forma que cria a tensão das cenas até chegar num clímax apavorante é de uma eficiência admirável, bem como o modo que desenvolve seus personagens, os aprofundando bem e fazendo com que a gente compre o drama vivido por cada um.
Contando também com um roteiro heterogêneo e cheio de diálogos funcionais, a trama que poderia soar clichê ganha um contexto genuíno por conhecermos de perto a personalidade da mãe e suas filhas – aliás, todo elenco mirim está excelente e demonstra uma enorme entrega. O que falar então da abordagem empregada no casal Warren, onde notamos a cumplicidade total e chegamos até sentir o amor e o respeito que nutrem um pelo outro.
Provavelmente teremos uma terceira parte e acredito que há material até para mais que isso, no entanto o maior temor dos fãs é que James Wan deixe de lado o projeto, assim como aconteceu em “Sobrenatural: A Origem” (2015), onde o roteirista original assumiu a direção e ainda assim não conseguiu nem de longe o mesmo resultado. Fica então nossa torcida para que Wan encerre pelo menos a trilogia abordando com profundidade os eventos de Amityville. Caso não aconteça, temos em “Invocação do Mal 2” outro bom filme contemporâneo de horror, feito por um cineasta apaixonado pelo gênero e que mesmo se aventurando em outros trabalhos, não vai tardar em voltar.
P.S: Assistam com a luz apagada, galera! Vai valer a pena!!!
Wilker Magalhães Crítico de cinema e colunista do portal A Voz de Santa Quitéria.