Às vezes nos “mundanizamos” demais e deixamos de lado a humanização. Uso a palavra “mundano”, porque muitas vezes abrimos mão de coisas imprescindíveis na vida espiritual. Assim como a natureza, que através de tempestades e catástrofes naturais nos cobra devido ao descaso; assim como a nossa natureza humana, que se não nos alimentarmos, enfraquecemos, ou se ficarmos sem dormir por algumas noites, a saúde vai embora, o mesmo acontece com a nossa espiritualidade. Como dizia Santo Inácio, se nos propomos a rezar 5 minutos e pensamos: “hoje eu vou abrir concessão de um”; no dia seguinte serão 2, depois 3, 4, 5 minutos e acabamos não rezando mais.
O Senhor permite, em sua sabedoria e pedagogia da Cruz, a provação e a tribulação para nos tocar, talvez pela atrição, para o grande anseio de Deus, que cheguemos à contrição. Ele tem um propósito para todos nós e tenho pregado muito isso. Escrevi, inclusive, sobre o tema no livro “20 Passos para a paz interior” para que as pessoas assimilem e tenham a certeza que Deus não permitiria algo ruim em nossas vidas somente para nos prejudicar. Deus só permite aquilo que pode se transformar em algo bom. Ele não brinca conosco, Ele cuida de nós como algo muito valioso. Nós somos muito preciosos para Ele. Tudo que falamos de Deus é pouco no que se refere ao que verdadeiramente Ele é. Se nós conseguimos imaginar que Deus é capaz de nos ferir para nos curar é porque ele nos reserva algo de bom, como nos diz Oséias: “Ele nos feriu e há de tratar-nos, Ele nos machucou e há de curar-nos” (Os 6, 1).
Muitas vezes somos insensíveis aos apelos de Deus, formamos um escudo em nós mesmos, e a flecha divina tem dificuldade de penetrar, porque quanto mais sedimentados aos apegos das paixões, ao mundanismo, à satisfação pela satisfação, menos sensibilidade temos para Deus. E por isso sofremos. Quem dera se nós deixássemos nos encontrar com Deus, e a cada momento Ele tenta nos encontrar. Mas nós, na maioria das vezes, nos esquivamos. Muitos perguntam, por que não progridem, não crescem, não se desenvolvem, não veem os frutos de sua santificação? Pela postura assumida diante de Deus, diante Dele a postura deve ser outra, devemos dizer: “Senhor, eu sou necessitado. Eu preciso do Senhor, eu preciso de Sua graça. Sozinho eu não sou ninguém. Não se ausente da minha vida, não me deixe cair em tentação, Senhor! Não me deixe só, porque eu sou fraco; não me deixe, Senhor, cair em tentação. Fica ao meu lado, me amparando, porque eu reconheço que fui feito de pó, pelas Suas mãos”. Devemos alcançar a raiz de nossa humanidade, porque quanto mais humanos, mais divinos.
Ninguém experimenta o amor de Deus se não viver na Sua presença. Quem não leva a sério sua vida com Deus, se perde. Não importa se consagrado, religioso, sacerdote ou leigo, se perde. Portanto, devemos sempre olhar para a bússola de Deus, a fim de sabermos para onde estamos indo. Todo problema espiritual que tivermos, devemos prestar a devida atenção, pois está em risco a nossa salvação.
Uma das formas de cuidar da nossa vida espiritual é através dos Sacramentos, principalmente pela Confissão. Eu não consigo entender alguém que diz ser da Igreja Católica e não tem uma vida de confissão. Temos que purificar a nossa fé, não podemos ficar com o coração dividido. Ou somos inteiros de Deus ou não somos nada.
Deus não tenta ninguém, mas Ele permite que sejamos tentados. Ele é forte e poderoso, mas o inimigo existe e quer semear em nosso coração a dúvida e a confusão. Nossa alma tem fome de Deus e precisa ser alimentada em Deus, através do Sacramento da Eucaristia, ela é o alimento eterno. Temos necessidade de comungar. Ao receber Jesus, na verdade, é Ele que nos envolve com seu amor. Devemos dar mais valor a Eucaristia, é preciso, após cada comunhão, adorar Cristo Vivo dentro de nós, isso nos cura.
Caso deixemos de experimentar o amor de Deus, e se em algum momento da vida nos cansarmos e nos dermos conta de nossa imperfeição, nos coloquemos diante Dele e recomecemos. Ele estenderá as mãos para que cheguemos mais perto do Seu amor, pois a Sua misericórdia é infinita.
Padre Reginaldo Manzotti