Filhos e filhas,
Admirar uma pessoa é reconhecer o que ela tem de bom. Invejá-la nos torna seus escravos.
A inveja se revela na tristeza sentida diante do êxito ou do bem-estar de outra pessoa, e no desejo incontrolável de se apropriar disso. É um sentimento amargo de desgosto em relação às vitórias, às conquistas, à felicidade ou, simplesmente, ao jeito de ser daquele que é invejado.
Não há pré-requisito para que a inveja se manifeste. Ela está presente em todas as classes e grupos sociais, incluindo os religiosos. No Antigo Testamento, há exemplos de homens que, movidos pela inveja, mentiram, roubaram e até mataram.
O coração do invejoso é egoísta. Quer só para si e por isso, às vezes, não basta ter, mas é preciso que o outro perca. Como está escrito no Livro dos Provérbios: “Um coração tranquilo é a vida do corpo, enquanto a inveja é a cárie dos ossos” (Pr 14, 30).
A inveja é um pecado capital, ou seja, geram outros pecados como a murmuração, que nada mais é do que falar sobre os outros de forma geral, mesmo que sejam fatos verdadeiros; a detração, que significa maldizer, difamar, mentir para prejudicar a imagem de alguém; o ódio; a exultação pela adversidade alheia (ficar feliz com a desgraça do outro); e, finalmente, aflição motivada pela prosperidade dos outros, quando o sucesso do próximo incomoda a tal ponto que leva o invejoso a tentar impedi-la. Por esse descritivo, fica evidente que a inveja possui um caráter gradativo, podendo evoluir da simples cobiça para um sentimento de posse (querer a qualquer custo) e até para algo mais destrutivo (“Se não posso ter, ninguém mais terá”).
Devemos entender que admirar a beleza, o sucesso, a inteligência e esforçar-se para também alcançá-los não significa ter inveja. Para que ela se configure, os comportamentos e subterfúgios mencionados devem estar presentes. Além de ferir o 10º Mandamento da Lei de Deus, a inveja é como uma doença que cresce silenciosa e quer tomar-nos por inteiro. Assim, é necessário extirpá-la completamente. E a melhor forma de combater a inveja é por meio da substituição dos defeitos por virtudes, transformando, por exemplo, materialismo exagerado, cobiça, sentimento de posse e aniquilação em seus opostos: altruísmo, generosidade, desapego, edificação, etc.
Santo Agostinho sugeriu transformar a inveja em admiração e imitação, isto é, em vez de nos entristecermos pelas qualidades e vitórias do próximo, temos de admirá-las e dar graças a Deus por elas. E mais: cada um deve estimular a si próprio a imitá-las. “Quem louva as qualidades dos outros, em vez de invejá-las, participa de seus méritos”, afirma Santo Agostinho. Já para convivermos com pessoas invejosas, o primeiro passo é seguir os princípios de Jesus e orar pelos nossos “inimigos”. Isso mesmo: antes de se virar contra aquelas pessoas que fazem mal a você, coloque a situação diante de Deus. Em seguida, busque algum tipo de aproximação para tentar enxergar um lado bom que, talvez, não esteja aparente. Parece contraditório, mas não é, porque as pessoas utilizam máscaras que só caem quando as conhecemos melhor. Muitas vezes, sob a "casca", percebemos que existe um coração, e o que parecia uma inimizade transforma-se numa grande amizade.
Cada um deve reconhecer, sincera e honestamente, o quanto há de inveja em seu coração e, confiante na misericórdia de Deus, combater esse sentimento. Reconhecendo nosso próprio valor, não nos sentiremos frustrados com os bens e a felicidade dos outros.
Em nossas orações devemos pedir que Deus nos livre da inveja, tanto externa, quanto interna.
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti