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Família enterra idosa com litrão de cerveja no caixão e ainda molha a boca da morta com a bebida

Seguindo tradição familiar, todos os parentes são enterrados em Inhaúma, com festa

Rita de Cássia
Por: Rita de Cássia Fonte: Extra Globo
12/12/2024 às 11h00
Família enterra idosa com litrão de cerveja no caixão e ainda molha a boca da morta com a bebida
Foto: Reprodução

Em vez de flores, um litrão de cerveja no caixão. Foi assim que a família de Aida Laurentino, de 80 anos, se despediu da idosa, que ainda teve a boca molhada com a bebida. Segundo parentes, todos os mortos com o sangue dos Laurentino é enterrado com festa. Já conhecendo os seus filhos, irmãos e sobrinhos, dona Aida também fez sua parte para manter a tradição: separou, em vida, uma quantia em dinheiro para bancar a cerveja consumida no dia do seu velório.

No início de novembro, o velório no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte foi seguido de festejos nada fúnebres: a celebração parecia encontro de bar, com mesas, cadeiras, garrafas de cerveja e um jogo do Flamengo passando na televisão.Quem conta é a sobrinha de Aida, Dayane Laurentino, de 37 anos, especialista em alongamentos de unha, responsável por tornar a história da família viral. Através de sua conta no TikTok (@dayanelaurentino1), ela compartilhou imagens do encontro familiar após o velório, que alcançaram mais de 900 mil visualizações.

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Ao EXTRA, Dayane descreve que todos os parentes são enterrados em Inhaúma, independentemente de onde morava. Como as capelas em Inhaúma ficam na parte de fora do cemitério, a família bebe antes do velório, acompanha o cortejo até a sepultura, e, em seguida, volta para o bar. No enterro de Aida, por exemplo, a família deixou o local só depois do anoitecer.

— Toda vez que tem enterro, a gente para naquele bar e fica bebendo. Minha tia era daquelas velhinhas arretadas, para frente, que ficavam até o final de todos os enterros. Dançava, estava em festa, enterro, velório, estava em tudo. Ela mesma deixou o dinheiro para a gente beber no enterro: colocamos até um litrão para ela no caixão, para levar, e molhamos a boquinha dela — relata Dayane, que já tinha filmado outros enterros da família, mas que acabou perdendo os registros. — Acredito que onde ela estiver, está em paz e ficaria triste se não tivéssemos feito aquela festa (no enterro).

Segundo a sobrinha de Aida, há parentes que preferiram não participar do encontro no botequim, por não estarem se sentindo bem. Mesmo assim, a falecida levou uma quantidade grande de pessoas para Inhaúma, já que tinha seis filhos, além de netos, bisnetos e sobrinhos, e muitos deles aparecem no vídeo que viralizou.

— O pessoal respeita bastante, por já ser tradição. O dono do bar já até conhece a gente. Já falei "mata todo mundo e não morre" — brinca Dayane, que lembra ainda de outros enterros, como o de seu pai, irmão de Aida, há um ano, que teve até torresmo, e de outros. — O do meu padrinho foi o mais engraçado, ele (caixão) não entrava na gaveta para ir embora: foi muito divertido, deus me livre.

Apesar de brincar e se definir como a "engraçada da família", Dayane explica que os seus primos, filhos de Aida, separaram entre si os pertences da mãe e, o que não queriam, doaram. Já a casa da idosa, no Lins de Vasconcelos, ficou para uma das irmãs da falecida, Elisabeth. De acordo com a família, Aida morreu de parada cardiorrespiratória no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, para onde foi socorrida após ter sofrido uma queda na casa de uma de suas filhas.

— Acredito que os mortos enterram os mortos. A gente vai fazer nossa parte enquanto estão vivos. Então, se não tem remorso nem nada, dá para continuar a vida tranquilo — conclui a sobrinha de Aida, também adepta ao enterro sem choro, nem vela.