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'Gosto muito dessa vida cara', postou foragida da Justiça por suspeita de aplicar o golpe da 'falsa garota de programa'

Rayene Carla Reis Lima é apontada como a líder do grupo que extorquiu mais de 30 vítimas no RJ. Os suspeitos pediam entre R$ 600 e R$ 3.5 mil para não expor os alvos nas redes sociais.

Josyvânia Monteiro
Por: Josyvânia Monteiro Fonte: G1
15/12/2024 às 15h13
'Gosto muito dessa vida cara', postou foragida da Justiça por suspeita de aplicar o golpe da 'falsa garota de programa'
Foto: Reprodução

A mulher identificada pela Polícia Civil como líder da quadrilha responsável por extorquir mais de 30 vítimas em um golpe com uma falsa garota de programa está foragida da Justiça.

Rayene Carla Reis Lima se apresenta em suas redes sociais como criadora de conteúdo digital, especialista e apaixonada por maquiagem. Com mais de 5 mil seguidores, Rayane divide seus posts em momentos de luxo, fotos da filha e vídeos onde canta e dança para mostrar seus truques com produtos de beleza.

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Em uma das publicações, Rayane aparece de biquini em um jet ski. Na legenda a frase: 'Gosto muito dessa vida cara'.

A foto chamou atenção dos agentes da 17ª DP (São Cristóvão). Comandados pela delegada Márcia Beck, os policiais civis descobriram que Rayene, na verdade, lidera um trio criminoso formado por seu irmão Ryan Carlos Reis Lima e sua prima Sarah Santos Borges. Os dois foram presos na última sexta-feira (13). Os três já fizeram mais de 30 vítimas, segundo as investigações. O golpe que eles aplicam utiliza uma falsa garota de programa para atrair e extorquir homens na internet.

Em outra publicação, a foragida aparece em um vídeo curto mostrando locais de viagem. Na legenda, mais uma vez ela comemora o momento da vida e pede que os seguidores não desistam de seus sonhos.

"Eu poderia reclamar da rotina cansativa que eu tinha. Mas um ano atrás eu daria de tudo para ter a vida que tenho hoje. Não desista dos seus sonhos", escreveu.

Como funcionava o golpe

De acordo com a Polícia Civil, o golpe funcionava em duas partes. Primeiro, uma mulher se apresentava na internet como garota de programa e puxava assunto com os alvos do bando.

Quando os golpistas conseguiam atrair um suposto "cliente", começavam a conversar por meio de aplicativos de troca de mensagens. Na conversa, a mulher pedia para os "clientes" mandarem fotos de partes intimas ou se masturbando. A conversa era finalizada sem nenhum contato físico entre a mulher que integrava o grupo criminoso e a vítima.

No dia seguinte, uma outra pessoa começava a segunda etapa do golpe, com um período de pesquisa e outro de extorsão. O grupo buscava reunir o maior número de informações possíveis, como dados pessoais dos alvos e de parentes, além do endereço da vítima.

Com essas informações, os golpistas entravam em contato com a vítima se passando por milicianos. Segundo as conversas interceptadas pela Polícia Civil, o criminoso dizia à vítima que ela tinha deixado de comparecer a um suposto programa com a mulher com quem ele havia conversado na noite anterior.

O golpista cobrava da vítima por não ter comparecido ao falso programa e exigia valores entre R$ 600 e R$ 3,5 mil. Nas mensagens ameaçadoras, o golpista afirmava que, se a pessoa não pagasse, divulgaria suas fotos íntimas nas redes sociais.

Além de mostrar dados sobre o alvo e seus parentes, os golpistas ainda postavam o endereço da vítima e ameaçava ir ao local para "resolver o problema".

"Se eu chegar na sua casa não tem conversa"; "Te dei a chance de resolver"; "Quer brincar com miliciano"; "Se não tiver com o valor vamos te matar", diziam os golpistas.

Em uma das conversas com uma vítima, o golpista faz ameaças diretas a esposa e aos filhos do interlocutor.

"Vai esperar eu fazer uma covardia com você pra resolver seu m*?. Por isso perde a vida de bobeira. A gente manda mensagem pra resolver, não responde ou fala que não sabe sobre o assunto"

"Vou avisar só uma coisa. Estou indo na sua casa, eu e mais quatro milicianos e vou resolver do meu jeito. Não tenho pena. A gente manda mensagem porque não quer oprimir criança nem esposa de ninguém", escreveu o golpista.

Cerca de uma hora depois das mensagens, a vítima responde pedindo para resolver a questão de forma amigável e topa pagar o valor cobrado.

"Boa noite. Eu acerto o valor de forma amigável sim. Tira minha família disso. Só me diz o valor", diz a vítima.

Manual da extorsão

Durante as investigações, os policiais encontraram com o trio golpista um manual da extorsão, um documento que servia para repassar os métodos do golpe para outros criminosos.

Batizado de "Golpe das P* Extorsão", o documento interceptado pelos policiais da 17ª DP (São Cristóvão) é dividido em cinco tópicos com o passo a passo para o golpe.

Veja as orientações dos criminosos no manual da extorsão:

  • "1 - Primeiro de tudo, meus amigos, sobe vários perfis de acompanhantes em vários lugares (na internet). Encaminhem pro WhatsApp.
  • 2 - Agora, você vai vendo os caras que vai chamar, marcando com eles horário fingindo que é a p* (prostituta).
  • 3 - Agora vem o golpe: Tem muito cara que marca e some e não vai. Você vai fazer o seguinte: puxa os dados dele e toma muito cuidado nessa parte. Pega um chip laranja, não conecta em Wi-Fi, usa só 4G e faz um WhatsApp.
  • 4 - Chama o bico (vítima) e ameaça ele, fala que tu é cafetão da facção da sua cidade. E que ele tem que pagar uma taxa de R$ 100. Manda o endereço dele e fala que vai passar lá. Fala que ele ta fazendo suas p* (prostitutas) perderem tempo marcando com elas.
  • 5 - Bico (vítima) vai se borrar todo, usa uma lara (laranja) e some com o chip depois da extorsão e vai fazendo o trampo."

Os investigadores da 17ª DP estão reunindo os registros feitos sobre crimes como esse para contabilizar o número total de vítimas do bando. Até o momento, são 31 registros de ocorrência contra o grupo que aplicava o golpe do falso programa.

Segundo a delegada Márcia Beck, responsável pela investigação, o número de vítimas deve ser bem maior do que o dado oficial, visto que as pessoas têm vergonha de denunciar a extorsão pela natureza do crime.