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Operação contra GDE prende mais de 80 pessoas e revela como tribunal do crime funciona

Investigados atuavam como lideranças e no tráfico de drogas, além de integrarem o setor de disciplina da organização, responsável por punições internas com agressões físicas e mortes

Thiago Rodrigues
Por: Thiago Rodrigues Fonte: O POVO
21/03/2025 às 19h12
Operação contra GDE prende mais de 80 pessoas e revela como tribunal do crime funciona
Foto: Reprodução

Mais de 80 pessoas membros da facção cearense Guardiões do Estado (GDE) foram presas ao longo da operação ‘Purgation’, que chegou à 13ª fase nesta sexta-feira, 21. Na nova etapa, a Polícia Civil do Ceará cumpriu 11 mandados de prisão, sendo sete em unidades prisionais e quatro de alvos em liberdade nos municípios de Fortaleza, Maracanaú, Tauá e Quixadá.

Entre as 84 pessoas presas na operação, um seria apontado como 'conselheiro' da facção cearense, que tinha papel de alto escalão na organização. Além da captura dos membros, a investigação também revelou a existência e detalhes da atuação do tribunal do crime — setor de ‘disciplina’, principalmente em atuação no município de Tauá.

De acordo com o delegado regional de Tauá, Danilo Távora, o setor de ‘disciplina’ da facção é responsável por julgar e punir membros do grupo por diversas infrações, desde o não pagamento de uma taxa acima de R$ 100 mensal chamada de ‘caixinha’ até traição, conhecido como ‘rasgar a camisa’. No local, são utilizados métodos violentos como agressões físicas, que eram filmadas no tempo de pelo menos três minutos.

“Cada integrante tem que pagar uma quantia mensal para a organização criminosa. Alguns não conseguiam pagar, três meses sem pagar, e eles recebiam uma punição”, disse o delegado. As agressões eram feitas por outros integrantes e, por vezes, eram obrigados a realizar as agressões, que eram gravadas e mandadas para um líder do grupo.

“Eles tinham que ver se realmente foi feita a punição, que era para uma maneira de coagir para que não tivesse mais esse tipo de punição”, comenta. Além do não pagamento dos valores, as punições também estariam relacionadas à droga que sumiam, condutas proibidas ou possíveis traições. O delegado também comenta que as punições eram, às vezes, divididas, e a última punição era o decreto de morte.

Entre hierarquias abaixo do conselheiro estão os cargos nomeados de “legionários”, ‘STG’ e ‘STF’, sendo esse o primeiro na hierarquia da facção. No setor, o delegado explica que um ou mais líderes definem qual vai ser a punição. A partir dessa punição, eles chamam os integrantes. “Às vezes, o cara [membro] não quer ir porque, às vezes, é um amigo, mas é obrigado que senão ele que recebe a punição”, explica o delegado.

A investigação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) constatou que quatro pessoas foram mortas e uma teria sido alvo de uma tentativa de homicídio no tribunal do crime da GDE. A investigação teve início em outubro de 2023 a partir da morte de uma mulher no tribunal. Além de identificar integrantes da facção, a operação investiga casos de tráfico de drogas e tentativas de homicídio nos municípios de Quixadá, Quixelô e Tauá.