A história trágica de Ana Luiza Neves, estudante do 3º ano do ensino médio e assistente em consultório odontológico, foi contada no programa “Fantástico”, da Globo, neste domingo (8/6). Logo após comemorar o aniversário com os irmãos e o pai, a jovem, que morava em Itapecerica da Serra, São Paulo, recebeu um bolo de pote encomendado de uma doceria renomada. Em áudios enviados às amigas compartilhados na reportagem, Ana Luiza brincou: “Se eu morrer envenenada, vocês já sabem”.
Poucos minutos depois, a jovem começou a passar mal, com vômitos e diarreia, como informado pelo pai, Silvio Ferreira das Neves. Levado inicialmente ao hospital como caso de intoxicação alimentar, o quadro se agravou no domingo (1º/6), e ela não resistiu.
O episódio chamou atenção da polícia, que identificou semelhanças com uma tentativa de envenenamento ocorrida duas semanas antes. A vítima, Kamilly, recebeu um presente semelhante por motoboy, junto com um bilhete de admirador secreto. Depois de ingerir o conteúdo, sofreu fortes mal‑estares. Exames confirmaram a presença de substâncias tóxicas, e ela precisou de observação clínica.
A investigação apontou o trióxido de arsênio como responsável pelo envenenamento. O produto químico é usado no tratamento de leucemia, porém é altamente letal em doses elevadas. A agressora dos dois casos, uma adolescente de 17 anos, adquiriu o veneno pela internet movida por ciúmes e afirmou que não pretendia matar, apenas causar mal-estar.
Conforme o delegado responsável pelo caso, Vitor Santos de Jesus, o modus operandi foi desvendado após rastreamento do entregador. “Rastreando os passos desse moto entregador, nós chegamos até a residência dele, confirmou o endereço exato onde tirou esse bolo. Chegando lá, encontramos uma família e identificamos que uma das filhas possuía as mesmas características físicas daquelas declinadas pelo moto entregador. Não teve nenhuma sombra de dúvida que ela era realmente a mesma pessoa”.
Segundo o pai, a suspeita ainda era amiga da vítima. Mesmo enquanto Ana Luiza passava mal, horas antes do colapso fatal, a jovem agressora ainda apareceu no hospital para confortar a família.
O pai de Ana Luiza, Silvio Ferreira das Neves, descreveu a menina que matou a filha como “calculista” e ficou impressionado com a facilidade de acesso ao arsênio: “Viu minha filha vomitando, passando mal, quando minha filha desmaiou ela estava aqui. Ela viu o diagnóstico da morte da minha filha e estava aqui. Me abraçou, disse ‘Tio, vai ficar tudo bem’. A pergunta que quero saber: como conseguiu comprar essa substância tão perigosa?”.
O caso reacende a discussão no Brasil sobre regulamentação de substâncias tóxicas como o arsênio. Ao que tudo indica, a jovem teria comprado na internet a substância fatal. Em resposta, o Ministério da Saúde afirmou, segundo o “Fantástico”, que está prevista a implantação de uma linha de atendimento especializado para casos de intoxicação até 2030.
Atualmente sob medida socioeducativa na Fundação Casa, a jovem pode receber até três anos de reclusão por ter cometido o crime sendo menor.