O Ceará tem 17,5% das mulheres de 50 a 59 anos — que chegaram ao fim da idade fértil — sem ter filhos. Essa é a terceira maior proporção do Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro (21%) e de São Paulo (17,9%).
Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 27.
Além da proporção ser a maior do Nordeste, ela foi a que mais aumentou de 2010 para 2022. No Censo 2010, 12,4% das mulheres tinham passado pela idade fértil sem ter filhos no Ceará. O valor registrado em 2022 aumentou 5,1 pontos percentuais.
A tendência de crescimento dessa proporção foi observada em todas as unidades da federação. Aumentou também a idade média em que mulheres têm filhos. No Ceará, em 2010, a média era 27,1 anos. Já em 2022, subiu para 28,3.
Conforme o IBGE, os dados analisados evidenciam o envelhecimento da curva de fecundidade entre 2010 e 2022, com o deslocamento da maior proporção de filhos tidos de mulheres mais jovens para aquelas com idades mais avançadas.
Nesse período, o número médio de filhos por mulher diminuiu. Se no Censo anterior cada mulher cearense tinha, em média, 3,8 filhos, em 2022 esse valor é de 2,5.
A taxa de fecundidade total, uma projeção que relaciona o número de nascimentos ocorridos em um grupo de idade de mães com o total de mulheres daquele grupo etário, também apresentou redução.
No Brasil, a taxa foi de 1,9 de filhos por mulher em 2010 para 1,55 em 2022. A redução desse indicador vem ocorrendo desde 1960, quando a taxa de filhos por mulher era 6,28. As cearenses têm taxa de fecundidade de 1,51.
A cor ou raça, o nível de escolaridade e a religião são fatores que influenciam a fecundidade das mulheres brasileiras.
No Ceará, a idade média das mulheres brancas que têm filhos é de 29,2 anos — maior que a média de idade das mulheres pardas e pretas e da média geral do Estado.
Chega a 31,5 anos a média etária das mulheres com ensino superior completo que têm filhos no Estado. São quatro anos a mais do que a média daquelas que não têm instrução ou fundamental incompleto.
Entre as mulheres de diferentes religiões, as evangélicas têm a maior taxa de fecundidade, com projeção de 1,74 filhos por mulher no Brasil. As católicas têm a segunda maior taxa, de 1,49, seguidas das mulheres sem religião, com 1,47.
O demógrafo Júlio Racchumi Romero explica que múltiplos fatores influenciaram a redução da taxa de fecundidade com o passar dos anos, como a urbanização e o acesso a métodos contraceptivos.
No entanto, a elevação do nível de escolaridade das mulheres é tido por estudiosos como um dos principais elementos para a mudança nos números.
“A mulher mais escolarizada não vai ter apenas a possibilidade de uma melhor inserção no mercado de trabalho, ela também vai ter mudanças sociais, de valores, de perspectivas, a ampliação de uma visão dela como cidadã”, explica o também professor do Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Além disso, o especialista afirma que mulheres que desejam ter filhos enfrentam dilemas sobre jornadas exaustivas e equilíbrio entre trabalho fora e dentro de casa.
“Se a gente quer que as mulheres desejem ter filhos e também desejem trabalhar, a gente precisa dar as condições para que elas possam manter isso de uma forma harmônica”, diz.
Creches adequadas, horas especiais no trabalho para mães e uma divisão de tarefas domésticas e de cuidado mais igualitárias podem influenciar na decisão de mulheres sobre ter ou não filhos.