
Um policial civil é investigado após tentar negociar para que um outro agente retirasse um aparelho celular do material apreendido durante a Operação Tropa do Empresário, realizada contra suspeitos de lavar dinheiro para a facção criminosa Comando Vermelho. Ele teria proposto pagamento de até R$ 50 mil para que o celular fosse trocado por outro.
O investigado é um oficial investigador identificado como Francisco Aristófanes Chaves Taveira, que também ocupava o posto de Diretor de Formação Sindical do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Ceará (Sinpol CE). Ele foi indiciado pelos crimes de corrupção passiva e fraude processual.
O inquérito policial aponta que o policial tentava obstruir a investigação contra Maysson Jefferson Lima dos Santos, que foi preso e estava em posse do celular apreendido durante a operação policial, em julho deste ano.
O objetivo de Francisco Aristófanes, conforme as investigações, era impedir que a polícia extraísse e analisasse os dados contidos no celular de Maysson, atrapalhando a investigação criminal.
O caso foi denunciado pelo policial para quem Aristófanes chegou a oferecer valores entre R$ 10 mil e R$ 50 mil para a troca dos celulares, configurando a fraude processual. O denunciante também atua como oficial investigador na Polícia Civil.
A Operação Tropa do Empresário prendeu cinco pessoas em julho de 2025. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos estados do Ceará, Piauí, Goiás, São Paulo e Paraná. No Ceará, a ação policial ocorreu em Fortal eza, Caucaia, Quixeramobim e Trairi.
As investigações começaram em 2022, após a prisão de um traficante, em Caucaia, que comercializava drogas por regiões turísticas do litoral cearense, como as praias de Cumbuco e Jericoacoara.
Os investigadores descobriram uma rede de empresários que ajudavam os criminosos cearenses a lavar o dinheiro oriundo do tráfico. Os traficantes chamavam o grupo de "Tropa dos Empresários", o que inspirou o nome da operação.
Dois dias após a Operação Tropa do Empresário, o policial se identificou apenas como “Ari” e entrou em contato com o colega de corporação por meio de ligação telefônica.
Segundo depoimento do denunciante, Ari solicitou um encontro presencial urgente, sem adiantar o assunto. O encontro foi realizado em frente a uma concessionária, em Fortaleza.
Na conversa, Ari perguntou sobre o material apreendido na operação, se o IMEI dos aparelhos celulares tinham sido registrados nos autos e se os celulares já haviam sido encaminhados para a extração de dados.
Quando o colega afirmou não ter certeza sobre estas respostas, o policial teria solicitado que o aparelho celular específico fosse trocado por conter “informações extremamente perigosas e comprometedoras”.
Na abordagem presencial, ele propôs o pagamento pela troca de celulares. E combinou um código para que eles continuassem se comunicando por mensagens de celular.
Os códigos eram:
Na mesma noite, o policial abordado denunciou Aristófanes para o delegado responsável pela operação policial. Ele foi orientado a continuar em contato para permitir a coleta de mais evidências sobre a conduta dele.
Imagens de câmeras de segurança do local do encontro presencial ajudaram a identificar o policial. Aristófanes fez novos contatos por mensagens de celular para confirmar se a troca seria possível.
Mesmo depois que o colega respondeu dizendo que “furou o racha”, o policial fez uma ligação telefônica pedindo que ele informasse o número de ofício da transferência dos celulares e que ele pudesse “tentar outra frente”.
Conforme orientado pelo delegado, o policial atendeu a chamada no modo viva-voz, e a ligação foi acompanhada por outros policiais que já estavam atuando na investigação contra Aristófanes.
No inquérito policial, a investigação aponta que Aristófanes poderia usar o ofício da transferência dos celulares para tentar subornar algum outro colega nos órgãos de inteligência, interferindo na extração dos dados do celular.
Com estas evidências, a conduta do policial foi denunciada à Delegacia de Assuntos Internos, vinculada à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD).