
Em uma conversa virtual com cerca de 15 mil jovens reunidos no National Catholic Youth Conference, nos Estados Unidos, na semana passada, o Papa Leão XIV dedicou parte do encontro a refletir sobre os impactos da tecnologia e da inteligência artificial na vida espiritual, um tema que também atravessa debates atuais sobre o uso ético da IA e seu papel no cotidiano.
Ao citar São Carlo Acutis, conhecido como o “padroeiro da internet”, o Papa aconselhou os jovens a reavaliarem a própria relação com o tempo de tela.
“Estejam conscientes do tempo que passam diante da tela e certifiquem-se de que a tecnologia esteja a serviço da vida e não o contrário”.
A fala dialoga com alertas frequentes sobre o design das plataformas digitais, cada vez mais orientadas para capturar a atenção do usuário.
Conectado ao estádio de Indianápolis entre quinta-feira (20) e sábado (22) da última semana, o pontífice respondeu perguntas que foram de saúde mental e amizade ao futuro da Igreja. Ao falar sobre tecnologia, o Papa colocou um ponto de atenção: como equilibrar inovação e vida de fé.
Ao comentar o uso de ferramentas digitais para acompanhar celebrações religiosas, ele destacou que a tecnologia “pode ser útil”, mas não substitui a presença física.
“Assistir à missa online pode ser útil, especialmente para aqueles que não podem participar pessoalmente, mas estar presente fisicamente, para a Eucaristia, para a oração, para a comunidade, é fundamental para nossa relação com Deus e entre nós. Portanto, embora a tecnologia possa nos conectar, não é a mesma coisa que estar fisicamente presente. Devemos usá-la com sabedoria, sem permitir que ela ofusque nossas relações.”
A fala reforça uma discussão presente no próprio ecossistema tecnológico: a de que experiências mediadas por tela são poderosas, mas não equivalentes ao encontro humano, uma fronteira que ganha ainda mais peso com a chegada da IA generativa.
Ao abordar diretamente o uso da inteligência artificial, Leão XIV reforçou limites e responsabilidades.
“Ela não pode oferecer verdadeira sabedoria, decidir entre o certo e o errado ou admirar com espanto a beleza. Portanto, tenham cuidado para que o uso que fazem da inteligência artificial não limite o autêntico crescimento humano. Usem-na de forma que, se amanhã ela desaparecer, vocês ainda saibam como pensar, criar e agir por conta própria. Lembrem-se: a inteligência artificial nunca pode substituir o dom único que vocês são para o mundo.“
A mensagem ecoa debates recentes sobre dependência algorítmica e autonomia intelectual. Para o Papa, o risco não está apenas no mau uso da tecnologia, mas na possibilidade de que ela atropele capacidades humanas essenciais, como criatividade, discernimento e contemplação.
A fala do Papa Leão XIV se soma a um conjunto crescente de reflexões globais sobre o papel da IA na sociedade, de governos discutindo regulamentação a empresas tentando equilibrar inovação e segurança. No contexto da fé, o pontífice destaca um ponto que também interessa ao campo da tecnologia: a preservação da humanidade.