
Dados recentes mostram que a violência no ambiente escolar tem aumentado significativamente no Brasil e também no Ceará. “São casos em que alunos estão contra alunos, agem contra professores e que merecem a atenção da família, merecem a atenção da escola e também das políticas públicas”, afirma Denisa Neiva, psicóloga. A especialista destaca que a situação envolve desde agressões físicas até violência psicológica e, em alguns casos, agressões sexuais, chamando atenção de autoridades, educadores e famílias.
Nos últimos meses, vídeos que circularam nas redes sociais mostraram episódios de agressões entre estudantes. Um registro feito em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza, mostra duas alunas trocando agressões físicas, incentivadas por colegas, provocando tumulto na saída da escola. Outro caso, registrado em Brasília em setembro, mostra um estudante sendo violentamente agredido por outros menores, chegando a desmaiar após as investidas. “Casos assim têm se tornado comuns em muitos estados”, reforça Denisa Neiva.
Segundo dados da Agência Tatu de Jornalismo, as notificações de violência em escolas no Brasil saltaram de 3.746 em 2014 para 14.747 em 2024, um aumento de 294%. No Nordeste, embora a região apresente a menor taxa por 100 mil habitantes, os casos quintuplicaram na última década. O Ceará se destaca com crescimento de 943%, passando de 42 registros em 2014 para 438 em 2024, liderando o ranking nacional. “A notificação se tornou mais frequente a ponto de podermos traçar um perfil dos agressores mais comuns. São os homens, geralmente envolvidos em homofobia, bullying e misoginia”, explica a psicóloga.
Para Denisa, a prevenção da violência escolar depende da ação conjunta de escolas, famílias e políticas públicas. “Dentro de casa, os pais que geralmente não estavam preparados, que estão na faixa entre 40 e 50 anos, precisam monitorar seus filhos. A prevenção passa pela observação atenta da escola, pelo cuidado dos pais e pela adoção de políticas públicas que levem à cultura de paz”, afirma. Ela destaca o Projeto Previne, do Ministério Público do Ceará, que atua em escolas públicas e privadas para combater bullying, homofobia e misoginia, promovendo um ambiente mais seguro e pacífico.
Além das ações do Ministério Público, o Conselho Estadual de Educação do Ceará (CEE) lançou a Resolução nº 514/2024, que estabelece diretrizes para educação em direitos humanos, cultura de paz e justiça restaurativa em todas as escolas do estado, públicas e privadas. O documento orienta metodologias participativas e dialógicas, adaptadas à realidade dos estudantes, e enfatiza a importância de um trabalho em rede contra todas as formas de discriminação, incluindo racismo, LGBTQIAPN+fobia, misoginia e capacitismo.
A Secretaria de Educação do Ceará também mantém projetos como Escola Acolhedora, Previne – Violência nas Escolas, materiais pedagógicos sobre cidadania digital e prevenção à violência, além de cursos temáticos como “Lola Aronovich” e a “Semana da Internet Segura”. Em Alagoas, programas como Coração de Estudante e protocolos de prevenção à LGBTfobia orientam escolas públicas e promovem acolhimento, rodas de conversa, palestras e reuniões intersetoriais. Todas essas ações buscam criar ambientes seguros e inclusivos, promovendo o bem-estar emocional e social dos estudantes.
Denisa Neiva reforça que a violência nas escolas é um reflexo de problemas sociais mais amplos e que é preciso atenção constante. “A prevenção não é só da escola, não é só da família; precisa ser um esforço conjunto, envolvendo políticas públicas que promovam uma cultura de paz e respeito dentro e fora das instituições de ensino”, conclui. Os especialistas alertam que, sem acompanhamento e educação adequada, os casos podem continuar crescendo, prejudicando o desenvolvimento e a segurança dos jovens em todo o país.