
O advogado Marcos Leal, que defende Douglas Alves da Silva, cearense preso por tentativa de feminicídio acusado de atropelar e arrastar uma mulher por cerca de um quilômetro em São Paulo, está pedindo sigilo no processo – isso porque o suspeito, a família dele e o defensor estariam sofrendo ameaças em virtude do caso, disse o advogado.
O pedido ainda está sendo analisado pela Justiça. Conforme Leal, Douglas estaria recebendo ameaças de outros presos e de pessoas que entram em contato com ele via redes sociais. O defensor também estaria sendo alvo de críticas e xingamentos, diz. Em uma mensagem que recebeu e mostrada à reportagem, o remetente o ofende e diz que ele não deveria defender Douglas. “Queria ver se fosse a sua filha, seu merda”, diz o texto.
“A sociedade ficou doente. Sou pai de dois filhos. Estou contratando seguranças”, afirma Leal. Ele também diz que precisou pedir apoio para a Polícia Militar do Ceará para reforçar a segurança dos pais de Douglas, que também estariam sofrendo com repressão popular. “Eles são idosos, com quase 80 anos de idade. A mãe precisou ser hospitalizada com toda a situação”.
No último sábado, 29 de novembro, Tainara Souza Santos foi atropelada na saída de um bar na região da Vila Maria, zona norte de São Paulo. Ela ficou presa embaixo do veículo e foi arrastada por cerca um quilômetro, se desprendendo do automóvel perto de um posto de combustível.
Tainara foi socorrida em estado grave e levada para o Hospital Municipal Vereador José Storopolli. Aos 31 anos e com duas filhas, ela precisou amputar as duas pernas e segue internada na UTI, respirando com a ajuda de aparelhos. Segundo a família, o quadro é estável.
A defesa de Douglas afirma que ele não conhecia a vítima e que teria na verdade tentado acertar o carro em um homem com quem teria brigado no bar e de quem teria ouvido ameaça de morte. Já os advogados da família e parentes da vítima apontam que Silva já teria tido um relacionamento breve com a jovem no passado e que teria cometido o crime por ciúmes ao vê-la no bar acompanhada de outro homem.
Um amigo de Douglas, que estava no carro com ele, afirmou em depoimento aos investigadores que, após atropelar a vítima, ele chegou a acelerar o carro com o freio de mão puxado para aumentar a pressão do veículo com o chão e ferir ainda mais Tainara.
Douglas Santos foi preso um dia após o crime em um hotel na zona leste da capital. De acordo com a polícia, ele reagiu à abordagem, sofreu um tiro no braço e foi detido na sequência. Conforme as investigações, o rapaz tinha planos de fugir para o Ceará, onde vivem os seus pais. Ainda de acordo com Marcos Leal, Douglas relatou em audiência de custódia ter sido torturado por agentes e afirmou que teria permanecido com feridas abertas pelo corpo, sem receber atendimento médico adequado.
Questionada sobre as supostas agressões, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que a abordagem “cumpriu todos os requisitos necessários e foi realizada dentro dos parâmetros de legalidade”. A Justiça manteve a prisão após audiência de custódia e Douglas se encontra detido no 26° DP, Sacomã, na zona sul da capital.