Quem não aprende com o passado, projeta um futuro repetido e erra duas vezes. A máxima é do historiador Gilberto Cotrim e cai como uma luva sobre o atual cenário político do Ceará.
Em 2014, a vaga para o Senado seria para Cid, caso se desincompatibilizasse do Governo em tempo hábil ou para seu irmão, Ciro Gomes, ambos no PROS, a candidatura de um dos dois era pacificada dentro do grupo governista.
Domingos Filho era o vice de Cid Gomes e optou por não renunciar junto com o chefe do Executivo naquele período, justificando que caso Cid abrisse mão do Governo, ele cumpriria a missão de concluir o mandato. Cid acabou não renunciando e decidiu ficar no comando do Abolição e conduzir o processo de sua sucessão.
Disputavam a indicação para governador naquele ano de 2014 para sucessão do governador Cid Gomes; o ex-ministro Leônidas Cristino; o presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque; o deputado Mauro Filho; a ex-secretária de educação Izolda Cela; e o vice-governador Domingos Filho. Nenhum deles foi escolhido, a indicação ficou com o petista Camilo Santana.
A articulação que ajudou a resolver o impasse veio de cima. Luizianne Lins queria uma candidatura própria do PT no Ceará, Guimarães sonhava com o Senado. Cid e a presidente Dilma Rousseff se entenderam, o deputado José Guimarães abriu mão da vaga ao Senado para que o PT indicasse o nome ao Governo do Estado e a vice ficaria com o PROS, partido de Cid.
Restou aos demais postulantes do bloco governista outro destino: a vaga ao Senado ficou com o deputado Mauro Filho, escolhido de última hora, que acabou sendo derrotado por Tasso Jereissati. Izolda Cela ficou com a vaga de vice-governadora ao lado de Camilo na cabeça de chapa, ambos foram eleitos no segundo turno, derrotando o senador Eunício Oliveira. Zezinho Albuquerque permaneceu na Assembleia e Domingos Filho foi parar no extinto TCM. Venceram a eleição, porém, ficou um saldo de intrigas e de desgastes na relação entre as lideranças, que foram se ajustando ao longo do tempo.
De 2014 para 2026, é preciso tirar algumas lições para não tropeçar no mesmo ponto. Com o lançamento da pré-candidatura da deputada federal Luizianne Lins (PT), ao Senado, soma-se a ela um já robusto bloco de nomes da base governista que flertam com a mesma cadeira: José Guimarães (PT), Chiquinho Feitosa (Republicanos), Eunício Oliveira (MDB), Júnior Mano (PSB), Domingos Filho (PSD), Romeu Aldigueri (PSB) e agora o nome de Chagas Vieira, chefe da Casa Civil, também é citado. Um campo de disputa mais do que competitivo.
O anúncio cada vez mais claro de Cid Gomes de que não pretende disputar a reeleição, abre espaço para o surgimento de novos nomes da base que se acham no direito de concorrer a vaga, o que pode revelar uma fragmentação no bloco ou até mesmo ausência de comando.
A base governista está pacificada quanto a reeleição de Elmano, contudo, as duas vagas para o Senado podem trazer problemas futuros. Elmano conta com o tempo a seu favor, podendo deixar para resolver essa questão depois do dia 6 de abril de 2026, ocasião em que governadores de centro direita irão decidir em nível nacional se concorrerão ou não à presidência da República, assim, o cenário estaria mais desanuviado para Lula, sobre possíveis alianças que influenciam diretamente nas escolhas dos estados.
A história é generosa com quem se dispõe a interpretá-la. A lição está aí: quando a vaidade fala mais alto que a estratégia, os resultados são imprevisíveis. Quando muitos falam e ninguém organiza, o ruído toma conta. E quando a liderança hesita, outros ocupam o espaço — às vezes, com custo alto demais para a coesão do grupo.
Para o Governo ou para o Senado, as lições do passado podem servir como uma bússola, ou como dizia Cotrim, quem erra duas vezes pelo mesmo motivo, o faz por escolha.