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Quais fatores poderiam levar Ciro Gomes a disputar o governo do Ceará?

Confira a coluna do jornalista Reginaldo Silva

Reginaldo Silva
Por: Reginaldo Silva
26/05/2025 às 17h58
Quais fatores poderiam levar Ciro Gomes a disputar o governo do Ceará?
Foto: Reprodução

Os fins não justificam os meios. A célebre frase de Maquiavel foi usada pelo senador Cid Gomes, nesta semana, para criticar a possível aliança do irmão Ciro Gomes com o bolsonarismo no estado.

Cid afirmou que seria um “terrível constrangimento” para ele ver o irmão ao lado dessa gente, ressaltando que não teria a menor possibilidade de subir em um palanque com essas figuras, citando, inclusive, alguns desses nomes.

Mas o que levaria Ciro a se unir ao bolsonarismo no Ceará e, quiçá, disputar o Palácio da Abolição? Essa pergunta nos remete a um passado recente. Ciro ainda guarda uma mágoa profunda do presidente Lula por ter dificultado seu caminho rumo à Presidência da República em algumas ocasiões; ora inviabilizando alianças políticas no período pré-eleitoral, ora esvaziando sua candidatura ao pregar o voto útil, como ocorreu no pleito passado, levando o ex-ministro a uma situação política vexatória no fim da eleição.

Naquele pleito, Ciro Gomes ficou em 4º lugar na disputa nacional e em 3º lugar no Ceará, com apenas 6% dos votos, enquanto Camilo Santana conquistou quase 80% e ainda elegeu Elmano de Freitas no primeiro turno para o Palácio da Abolição.

A mágoa por Lula aumentou, mas também sobraram fagulhas para Camilo e para o irmão Cid Gomes. Naquele momento, Ciro vivia um dilema nacional. Era cobrado por onde passava sobre sua postura política, enquanto fazia críticas ferrenhas a Lula e ao PT. Ao mesmo tempo, em seu estado, tinha a legenda como principal aliada. Essa contradição colocava em xeque seu discurso político, cuja situação precisava ser resolvida.

Ao convocar Cid e Camilo para essa tomada de decisão, ninguém aceitou a candidatura do PDT, o que provocou o rompimento com o Partido dos Trabalhadores, encerrando uma aliança histórica de duas décadas e o refúgio de Cid à Serra da Meruoca. O restante da história todos já conhecem.

Ciro, além da mágoa com Lula, passou a se sentir traído por Camilo e pelo próprio irmão Cid Gomes por não terem apoiado a candidatura do PDT no Ceará; justamente no momento em que sua campanha nacional naufragava, engolida pela polarização entre Lula e Bolsonaro.

Esses são alguns fatores que poderiam trazer Ciro de volta a uma disputa no cenário estadual. A mágoa profunda com o PT e com aqueles que considera traidores justificaria colocar novamente seu nome em uma eleição para o governo do Ceará.

É importante destacar que Ciro não nutre esse mesmo ressentimento por Elmano. Ao contrário: em 2020, num vídeo de 30 segundos, Ciro elogiou o petista durante a campanha para a prefeitura de Caucaia. Na gravação, afirma que Elmano amadureceu, tem experiência e conexões necessárias para fazer uma boa gestão. Esse vídeo, inclusive, serviu de combustível para que o grupo petista escolhesse Elmano como candidato ao governo do Ceará, enfrentando Roberto Cláudio, à época, o nome de Ciro.

A pré-candidatura de Ciro ao Palácio da Abolição ainda é uma incógnita. Existem outras variantes no caminho. Ele ainda nutre a esperança de contribuir no cenário nacional; quem sabe, mudando de partido com a fusão do PSDB com o Podemos, podendo até sair como vice numa chapa do PSD nacional, caso Eduardo Leite emplaque como candidato. Tasso Jereissati tem relação estreita com ambos e poderia costurar essa aliança, atuando como interlocutor entre as lideranças do Sul-Sudeste e a região Nordeste.

É muito cedo para definições. Tudo ainda gira no campo da especulação. Mas não se pode descartar o nome de Ciro, tanto na disputa nacional quanto em uma possível postulação ao governo do Ceará. No campo nacional, ele ganharia sobrevida política, mesmo perdendo. Já, em caso de derrota no Ceará, seria a pá de cal em uma carreira política robusta, construída a duras penas.

Resta saber se o coração ferido de Ciro ainda tem fôlego para enfrentar mais essa cruzada, na tentativa de reconquistar o Ceará.