Filhos e filhas,
Pentecostes não é apenas uma memória do passado, mas uma realidade viva e presente. Assim como aconteceu no Cenáculo, quando os Apóstolos reunidos com Maria, Mãe de Jesus, perseveravam em oração, também nós somos chamados a viver essa mesma experiência. Foi, na primeira novena da história, que o Espírito Santo desceu como línguas de fogo, transformando aqueles homens temerosos em anunciadores destemidos do Evangelho.
O Pentecostes não é um evento isolado na história. Aconteceu na casa de Cornélio (cf. At 10) e se renova na vida da Igreja sempre que abrimos nosso coração. Todos nós temos áreas da nossa vida que ainda precisam ser preenchidas pela ação do Espírito. Por isso, nunca podemos dizer que estamos “plenos”. Plenitude, na verdade, só se alcança quando estivermos face a face com Deus. Até lá, o Espírito continua a nos transformar, a cada ano, a cada celebração.
O Evangelho de João nos traz uma belíssima reflexão sobre o Pentecostes. No capítulo 20, o Ressuscitado aparece aos seus discípulos e, por três vezes, diz: “A paz esteja convosco”. Não é uma saudação qualquer, mas uma cura profunda. O primeiro “Shalom”cura a ferida do medo e da frustração. Aqueles homens estavam trancados, inseguros, envergonhados por terem abandonado o Mestre. Jesus entra e diz: “Eu conheço suas fraquezas e mesmo assim continuo confiando em vocês”.
O segundo “Shalom” cura a incredulidade. Assim como Tomé precisou tocar nas chagas, também nós muitas vezes nos deixamos abater pela tibieza espiritual — aquele estado em que a fé se esfria, a oração perde sentido e a vida na comunidade se torna um peso. Jesus, no entanto, se oferece: “Ponha tua mão aqui”. Ele não rejeita nossas dúvidas, mas nos convida a um reencontro com a fé viva.
Por fim, o terceiro “Shalom” nos envia. Depois de curados, restaurados na paz e na fé, Jesus sopra sobre eles e diz: “Recebei o Espírito Santo”. É o envio missionário. A paz recebida não é para ser guardada, mas compartilhada. Foi assim que Pedro, o pescador simples, teve coragem de pregar no Pórtico de Salomão, lugar reservado aos mestres da Lei.
A Igreja nasce do Espírito e se mantém de pé por Ele. A missão não é apenas dos padres ou religiosos. Todos, nas mais diversas vocações, são chamados a serem instrumentos de transformação no mundo. Precisamos de médicos, professores, políticos, advogados, pais e mães cheios do Espírito Santo. Somente assim veremos os sinais e prodígios que acompanharam os primeiros cristãos se repetirem também hoje.
Pentecostes nos lembra que o mundo pode até tentar nos dividir, mas em Cristo, e pela força do Espírito, permanecemos unidos, cada um no seu carisma, mas todos pela mesma causa: anunciar Jesus e fazer o Reino de Deus acontecer.
Termino essa mensagem com a Sequencia de Pentecostes, clamando o Espírito de Deus:
"Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!"
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti