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Jovem de Reriutaba é aprovado em Medicina na Uece

Mateus estudou durante quatro anos até ser aprovado em Medicina na Uece. Agora, ele busca doações para custear a ida a Crateús e realizar o curso

Raflézia Sousa
Por: Raflézia Sousa Fonte: O POVO
05/08/2025 às 10h35
Jovem de Reriutaba é aprovado em Medicina na Uece
Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Após estudar por quatro anos, Mateus Silva Santiago, de 20 anos, natural do município de Reriutaba, a 301,01 km de Fortaleza, foi aprovado em Medicina na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Agora, o jovem busca doações para custear a ida até Crateús e estudar tranquilamente.

Atualmente ele mora em Sobral, a 233,78 km de Fortaleza, e está solicitando ajuda por meio de uma chave Pix para custear a mudança ao Sertão de Crateús.

Mateus morava com os avós no bairro de Açude do Mato, em Reriutaba. Dona Francisca Ana da Conceição, faleceu em 2017 devido a um infarto. Já o avô, Valdemiro Santiago de Souza, faleceu no ano passado.

Os idosos eram o alicerce de Mateus e o apoiaram nos estudos. O estudante conta que, antes da aprovação em Medicina, passou em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

O jovem utilizava o benefício do Restaurante Universitário (R.U) para conseguir garantir a alimentação no município de Sobral. “Para não ficar com fome aqui em Sobral e o resto eu tava estudando [para Medicina]”, conta.

“Eu sempre dei muito valor à questão da educação. Desde pequenininho eu admirava muito meus professores. A gente que é da periferia, é difícil sair daquela realidade. A forma de conseguir sair dali era através dos estudos”, relata Mateus.

O estudante conta que nunca recebeu apoio dos pais para estudar. A mãe foi embora para o Rio de Janeiro quando ele era mais novo. Já o pai é alcoólatra e, de acordo com Mateus, nunca o incentivou.

“Quando foi em 2017, minha vó veio a falecer, devido um infarto, e para mim tudo mudou completamente. Ela sempre me ensinou a fazer tudo dentro de casa: fazer comida, ajeitar as coisas, ela me criou da melhor forma”, relata.

Após o falecimento de dona Ana, o avô, Valdemiro, foi diagnosticado com Doença de Alzheimer (DA). “Ele estava perto do caixão e ficava perguntando onde ela estava.”

Quando a pandemia foi decretada, a escola municipal em que Mateus estudava não tinha estrutura para oferecer o Ensino à Distância (EaD). Como não tinha aulas, o jovem precisou comprar um celular e estudar por conta própria.

Antes de ser aprovado na Uece, Mateus passou em um curso técnico de enfermagem, em sexto lugar.

O avô acabou sendo cuidado por um tio do jovem, que veio do Rio de Janeiro, devido à situação difícil em casa. 

Após concluir o ensino médio, Mateus ganhou uma bolsa de estudos integral para o cursinho do colégio Farias Brito de Sobral. Sem apoio, ele conta que tomava banho escondido na instituição nos primeiros dias após a mudança.

“Eu sempre falava com alguns professores e eles sempre mandavam alguma coisa para mim, me ajudavam. E eu tinha uma vergonha muito grande em relação a isso. Mas eu tinha que pedir porque se não eu morreria de fome”, explica.

Mateus estudava no cursinho das 7 horas às 21h30min todos os dias. Aos finais de semana, ele realizava os simulados disponibilizados pela instituição.

O jovem realizava alguns bicos trabalhando em uma pizzaria e como cuidador de pacientes e utilizava o dinheiro para pagar o aluguel, onde também recebia uma ajuda de custo do ex-prefeito de Reriutaba, Osvaldo Neto.

Atualmente ele mora em uma casa dividida entre dez pessoas e paga algumas contas essenciais, isento do aluguel.

Jovem do interior do Ceará é o primeiro da família a cursar Medicina

A aprovação veio em junho deste ano, quando o jovem passou em 4º lugar na cota de Pretos, Pardos e Indígenas (PPI).

“Eu tava no [hospital] regional cuidando de um paciente quando me mandaram mensagem dizendo que eu tinha passado. Eu ainda não acredito. Eu sou a primeira pessoa da minha família a conseguir um curso tão alto”, afirma orgulhoso.

“Eu acredito muito em Deus e acredito que tudo vem na hora certa e deu tudo certo, graças a Deus. Realmente, ainda não acredito. Mas eu tô muito feliz”, diz.

Mateus continua: “Minha vó faleceu justamente porque demoraram a atender. Se o médico tivesse atendido logo, ela não teria tido uma piora (...) Pensei: 'poxa, eu vou me tornar um profissional médico, mas eu não vou me tornar qualquer profissional. Realmente vou olhar para o paciente e vou atender da forma mais excepcional possível'”, declara.

“Muitas vezes os médicos chegam e aplicam a medicação, nem olham pra cara do paciente. Eu não quero ser esse tipo de profissional. E por eu conhecer, já ter passado pelo técnico de enfermagem e já conhecer a nossa realidade, a realidade do pobre, eu tenho esse olhar mais humano em relação às pessoas”, finaliza.

Os interessados em realizar doações financeiras devem doar através da chave Pix: (88) 99688 7805 (telefone), no nome de Mateus Silva Santiago. A instituição bancária é o Bradesco.

O dinheiro será utilizado para custear despesas com alimentação e moradia em Crateús.