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Ceará registra mais de 500 pedidos de pessoas trans para alteração de nome no registro civil desde 2018

Ceará registra mais de 500 pedidos de pessoas trans para alteração de nome no registro civil desde 2018

Thiago Rodrigues
Por: Thiago Rodrigues
23/06/2022 às 09h01 Atualizada em 23/06/2022 às 09h01
Ceará registra mais de 500 pedidos de pessoas trans para alteração de nome no registro civil desde 2018
Foto: Reprodução

Em 2017, o estado teve 17 pedidos, quando ainda havia necessidade de ação judicial. No ano seguinte, o montante subiu para 75 — um aumento de 341%. Na Defensoria, os pedidos são acompanhados pelo Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC). Já em 2022, foram 53 solicitações até 15 de junho.

A decisão do STF determinou que qualquer pessoa pode solicitar a retificação indo, por conta própria, ao cartório de registro civil no qual consta o ato jurídico do seu nascimento. Basta ter mais de 18 anos e pagar as taxas para a emissão do novo documento. Só há duas exceções: indivíduos 'não-bináries' — que não se identificam como homem ou mulher — e menores de idade. Nestas situações, até hoje, apenas uma sentença judicial autoriza a mudança.

“Pessoas trans e travestis sofrem diversas violações de direitos quando os documentos não condizem com o nome e o gênero com os quais elas se identificam. Alterar o registro civil é o primeiro passo para mudarem também o RG, a carteira de trabalho, o passaporte… Só assim elas poderão exercer alguma cidadania”, declarou a supervisora do NDAHC, defensora pública Mariana Lobo.

“E digo ‘alguma’ porque todos sabemos o quanto a vida dessas pessoas é difícil até no acesso a serviços básicos. A própria retificação do registro, mesmo sendo determinada pelo CNJ, nós ainda encontramos resistência, sobretudo no Interior, com alguns cartórios alegando até motivos religiosos para negarem a emissão. A atuação da Defensoria, então, garante que pessoas trans e travestis não tenham negado um direito tão elementar”, complementou a advogada.

Mutirão ‘Transforma’

A Defensoria realiza, no próximo dia 30 de junho, o Transforma, primeiro mutirão da instituição para retificação de nome e gênero voltado especificamente para as populações trans e travesti cearenses.

“Trata-se, portanto, de um trabalho intensivo de causas já rotineiramente acolhidas pela DPCE, especialmente pelo NDHAC. A força-taG1refa tem por motivo o Dia do Orgulho LGBT, celebrado mundialmente em 28/6”, explica a Defensoria.

Em apenas duas semanas de inscrições, o Transforma registrou 368 pessoas interessadas na alteração documental. O número equivale a 70% da demanda do Núcleo de Direitos Humanos dos últimos cinco anos e meio. Comprova ainda o quanto há de demanda reprimida no Ceará no tocante à correção dos documentos de travestis, homens trans e mulheres trans.

A Defensoria está analisando cada inscrição para encaminhar a documentação aos cartórios, agilizando, assim, a tramitação dos pedidos, assegurando a essas pessoas a gratuidade na emissão dos novos registros e abrindo portas para o começo do exercício de uma cidadania plena.

A entrega dos documentos com nomes e gêneros retificados acontecerá em solenidades realizadas pela DPCE em Sobral, Fortaleza e Juazeiro do Norte.

“A alta procura nos mostra o quanto essas populações ainda precisam de acolhimento para demandas tão elementares. E é pra essas pessoas que a Defensoria existe. Elas vivem em situação de vulnerabilidade pelo simples fato de não terem documentos que condizem com o que elas realmente são. Se há mecanismos para esse direito ser assegurado, como há, nós, enquanto Defensoria, vamos atuar para garantir”, disse a assessora de relacionamento institucional da DPCE, defensora Lia Felismino.

G1 CE