Um animal símbolo da cultura brasileira, o jumento, está sob ameaça de extinção. O motivo: o aumento no abate para atender a demanda por um remédio tradicional chinês, o “Ejiao”, feito com o colágeno da pele do animal.
Segundo Patrícia Tatemoto, coordenadora de campanha da América Latina pela instituição The Donkey Sanctuary, a demanda do mercado medicinal chinês por peles de jumentos gira em torno de 6 milhões de unidades por ano. No Brasil, a Bahia se destaca como polo de abate, com pelo menos três abatedouros em operação e mais de 230 mil animais sacrificados no Nordeste entre 2018 e 2023.
A extração da matéria-prima para o Ejiao é feita sem a devida inspeção, o que gera sofrimento aos animais e coloca em risco a saúde dos trabalhadores dos abatedouros, que podem contrair doenças respiratórias. O Ejiao é uma gelatina fabricada com o couro do jumento e utilizada na medicina tradicional chinesa para tratar diversos problemas de saúde, como menstruação irregular, anemia, insônia e impotência sexual. No entanto, não há comprovação científica de sua eficácia.
O último censo do IBGE, realizado em 2017, apontou uma população de aproximadamente 600 mil jumentos no Brasil. Desde então, estima-se que mais de 200 mil animais tenham sido abatidos. Com a gestação do jumento durando 12 meses, a reprodução natural não acompanha o ritmo do abate, colocando a espécie em risco de extinção.
Diante da ameaça, diversas ações na Justiça tentam proibir o abate de jumentos. Até o momento, apenas uma delas, movida pela Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, obteve decisão favorável. O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, discute a possibilidade de produção celular de colágeno, o que poderia eliminar a necessidade de sacrificar os animais.
Enquanto a demanda pelo Ejiao se mantém alta, o futuro do jumento no Brasil é incerto. Ações para proteger a espécie, como a proibição do abate e o desenvolvimento de alternativas para a produção do colágeno, são essenciais para evitar a extinção de um animal que faz parte da história e da cultura brasileira.