Um amor que atravessou o tempo, resistiu a décadas e terminou com a partida de ambos no mesmo dia. Em Votuporanga, interior de São Paulo, Odileta Pansani de Haro, de 92 anos, e Paschoal de Haro, de 94, morreram com apenas dez horas de diferença, no último 17 de abril.
O casal estava prestes a completar 74 anos de casamento. A data, marcada por celebrações ao longo da vida, também foi o ponto final de uma jornada conjunta que começou na juventude, quando se conheceram casualmente em uma praça da cidade.
O romance teve início de forma inusitada: uma corrente que Paschoal brincava acabou escapando de suas mãos e acertou o braço de Odileta. O que poderia ter sido apenas um momento embaraçoso tornou-se o elo de uma história que só cresceria com o tempo. "Eles trocaram olhares e risos, e foi assim que começou tudo", recorda Luciano Leal, genro do casal. As primeiras conversas continuaram por meio de cartas, nas quais já transpareciam o carinho e o compromisso que marcariam os anos seguintes.
Numa dessas cartas, datada de 1947, Paschoal escreveu: "Desejaria viver ao teu lado, adivinhar os teus desejos, fazer-te feliz porque só assim eu seria feliz também." Já Odileta, em 1949, chamava o amado de "meu anjo" e dizia: "De você não me esqueci e nem hei de esquecer." As palavras registradas nessas correspondências antecipavam a vida longa que teriam juntos. O casamento aconteceu no dia 15 de abril de 1951, data em que Paschoal completava 20 anos, e foi celebrado na fazenda da família dela.
Durante toda a vida, além de formarem uma família com seis filhos, netos e bisnetos, o casal também se dedicou a ajudar o próximo. Juntos, fundaram uma entidade que distribuía enxovais e alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade. "Sempre foram amorosos, receptivos e comprometidos com o bem-estar dos outros, sem distinções", destacou o genro, emocionado. Segundo ele, o vínculo entre os dois era tão forte que ultrapassava o amor romântico: "Eles dedicaram o amor que tinham um pelo outro a transformar a vida de quem precisava."
Nos últimos anos, Odileta enfrentou o Alzheimer, enquanto Paschoal recebeu um diagnóstico de câncer no intestino. Sabendo da gravidade do quadro, ele teria pedido a Deus que os levasse juntos. E assim foi: ela partiu às 7h da manhã e ele às 17h do mesmo dia. "Essa paixão digna de um filme... assim cumpriram. Vieram, se viram e venceram essa grande paixão", declarou Luciano, resumindo uma história de amor que se eternizou não apenas na memória da família, mas também na cidade onde tudo começou.