Dois militares cearenses estão entre os réus interrogados nesta segunda-feira, 28, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O tenente-coronel do Exército Rodrigo Bezerra de Azevedo e o general da reserva Estevam Theophilo fazem parte do chamado núcleo 3, composto majoritariamente por integrantes das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “Kids Pretos”.
Segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), o grupo planejava ações extremas, como o sequestro e a execução de autoridades da República, entre elas o ministro do STF Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Rodrigo Bezerra de Oliveira, ao lado dos também tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira, é apontado como participante da chamada operação “Punhal Verde e Amarelo”, que previa assassinatos de autoridades. Eles também estariam envolvidos na "Operação Copa 2022", um plano de sequestro de Moraes, que chegou a ser parcialmente executado, mas foi interrompido após falhas na comunicação.
O general Estevam Theophilo é acusado de colocar as tropas das Forças Especiais à disposição da ruptura institucional. De acordo com a delação do tenente-coronel Mauro Cid, Theophilo teria afirmado que cumpriria ordens de um eventual decreto presidencial que rompesse com a ordem democrática.
Estevam Theophilo é irmão do também general Guilherme Theophilo, ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro (PL), ex-candidato ao Governo do Ceará em 2018 e atual pré-candidato ao Senado pelo partido Novo.
Os interrogatórios desta segunda-feira incluem dez réus ligados ao núcleo 3, sendo nove militares e um agente da Polícia Federal:
Além dos dois citados, outro militar cearense também figura entre os denunciados, embora integre um núcleo diferente da investigação. Trata-se do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que não será interrogado nesta etapa.
De acordo com a PF, Paulo Sérgio teria manipulado o relatório técnico das Forças Armadas sobre o sistema eletrônico de votação, retardando sua divulgação mesmo diante da constatação de que não havia vulnerabilidades.
As investigações apontam que, em 5 de julho de 2022, o general participou de uma reunião com Jair Bolsonaro e outros membros da cúpula do governo, como os ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI) e Mário Henrique (Secretaria-Geral).
No encontro, segundo a PF, todos agiram como se a candidatura à reeleição de Bolsonaro estivesse sendo sabotada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Paulo Sérgio teria se referido à Justiça Eleitoral como “inimiga”, usando linguagem militar típica de ambientes de guerra.