
Dados do Ministério da Saúde apontam avanços históricos no combate à AIDS no Brasil: o país eliminou a transmissão vertical do HIV (quando o vírus passa da mãe para o bebê) e alcançou, em 2024, a menor taxa de mortalidade em 32 anos.
Foram contabilizados 9.001 óbitos, número 13% menor que o registrado no ano anterior. Também houve queda nos casos materno-infantis: 7.500 gestantes com HIV foram identificadas, quase 8% a menos em relação ao período anterior.
O ator e escritor Rhamon Matarazzo, que vive com o vírus há 16 anos, afirma que o principal obstáculo ainda é o estigma. “As problemáticas que a gente encontra ainda são estruturais. Nem o meu vizinho da esquerda nem da direita sabem o que é indetectável e intransmissível. Não sabem que eu sou uma pessoa que, mesmo tendo relações sexuais com outra pessoa, não transmito o HIV, porque estou em tratamento e posso ter filhos saudáveis.”
Para Rhamon, o apoio da família e da sociedade é determinante para que o tratamento seja vivido sem medo. Ele reforça: “O que não dá é pra pessoa se entregar ao pensamento de morte, ao pensamento de preconceito, de exclusão, como eu me entreguei em oito anos da minha vida. Então, se você tem uma pessoa na sua família com HIV ou se você tem HIV ou um amigo, abrace, apoie, ampare.”
A infectologista Lisandra Damasceno, do Hospital São José, explica que o país atingiu índices inéditos de controle da transmissão materno-infantil. Segundo ela, as taxas alcançadas nos últimos anos são tão baixas que, em termos de saúde pública, há eliminação da transmissão vertical, conforme o entendimento da Organização Mundial da Saúde (OMS).
As ações de prevenção ao HIV/AIDS no Brasil também avançaram. Além do uso de preservativos, cresceu o acesso à PrEP e à PEP – respectivamente métodos de prevenção à contração do HIV antes e depois da exposição. Nos últimos dois anos, o número de usuários da PrEP aumentou mais de 150%, chegando a cerca de 140 mil pessoas que utilizam o medicamento diariamente. Em situações de emergência – como após uma relação sexual sem camisinha, rompimento do preservativo ou qualquer outro tipo de exposição – a PEP pode ser iniciada em uma UPA ou hospital, após avaliação.
Outra estratégia em expansão é a TelePrEP, que facilita o atendimento remoto e agiliza o início da prevenção medicamentosa. Lisandra explica como funciona o acesso: “Faz um cadastro numa página lá da Secretaria de Saúde, e ela é direcionada para um atendimento com um infectologista ou com um farmacêutico, que vai avaliar e indicar a PrEP para essa pessoa. Então, se a pessoa não tem disponibilidade de ir à policlínica fazer esse atendimento de PrEP, ela pode buscar o teleatendimento.”
A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é um método preventivo ao HIV que consiste na tomada diária de um comprimido combinando tenofovir e entricitabina, medicamentos antirretrovirais que bloqueiam os caminhos usados pelo vírus para infectar o organismo. Os fármacos criam uma barreira no corpo, impedindo a replicação do HIV em caso de exposição durante relações sexuais ou compartilhamento de agulhas, com eficácia de até 99% no sexo anal receptivo quando usada corretamente. Exige adesão rigorosa, testagem periódica para HIV e ISTs a cada 3-4 meses, e não protege contra outras infecções sexualmente transmissíveis.