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Instituto umbandista quer perda de mandato de prefeito que atacou religiões de matriz africana

Prefeito de Ararendá, Aristeu Eduardo apontou que praticantes dessas religiões “se apresentam como pessoas de bem”, mas “à noite vão bater tambor nos terreiros”

Raflézia Sousa
Por: Raflézia Sousa Fonte: O POVO
08/10/2025 às 15h33
Instituto umbandista quer perda de mandato de prefeito que atacou religiões de matriz africana
Foto: Reprodução/ Instagram

Seguem repercutindo as declarações do prefeito do município de Ararendá (CE), Aristeu Eduardo (PT), que criticou religiões de matriz africana durante a inauguração de uma praça na comunidade de Barriguda, no último dia 30 de setembro.

Vídeos que registraram o discurso circularam nas redes sociais e geraram reações adversas, fazendo com que o prefeito entrasse na mira do Ministério Público e recebesse críticas inclusive de membros do Partido dos Trabalhadores. 

Duas outras entidades repudiaram a manifestação do prefeito, o Instituto Carta Magna da Umbanda do Estado Ceará (ICMU-CE) e o Setorial Nacional Inter-Religioso do Partido dos Trabalhadores. 

O advogado Edilson Brasil, representando a ICMU-CE, informou ao O POVO que será protocolada nesta quarta-feira, 8, uma queixa-crime pedindo a condenação do prefeito por intolerância religiosa, com consequente perda do mandato.

Boletim de ocorrência

Na última semana, o presidente do Instituto Carta Magna da Umbanda do Estado Ceará, sacerdote Pai Gerson, esteve na Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação (Decrin), responsável sobre crimes relacionados a preconceito e racismo contra qualquer religião.

Em vídeo publicado nas redes sociais da organização, Pai Gerson e o advogado Edilson Brasil afirmaram ter protocolado um Boletim de Ocorrência sobre a questão, afirmando que o prefeito de Ararendá ofendeu todos os povos de terreiro do Estado do Ceará e pedindo "providências em relação ao crime de Intolerância Religiosa praticado".

Exigência de retratação

O Setorial Nacional Inter-Religioso do Partido dos Trabalhadores publicou uma nota de repúdio em defesa da "laicidade do Estado e do fim do racismo religioso".

Na nota, publicada nas redes sociais, o grupo repudia a fala de Aristeu, afirmando que a manifestação ocorreu "de forma desconectada dos princípios norteadores do próprio partido". Afirmam ainda que a atitude consistiu em um "grave desrespeito ao Estado Laico", que "reforça estereótipos preconceituosos e alimenta a intolerância que tantas vidas tem ceifado em nosso país".

Dessa forma, o grupo afirma exigir uma retratação pública por parte do político e a abertura de "um canal de diálogo com lideranças religiosas de matriz africana e com o movimento negro do município para a construção de políticas públicas efetivas de combate ao racismo religioso".

"Mal interpretado"

Após a repercussão da fala, o prefeito Aristeu Eduardo manifestou-se por meio de nota publicada em sua conta pessoal no Instagram. Nela, disse que a fala "infelizmente acabou sendo mal interpretada" e que, em nenhum momento, fez "referência negativa ou crítica a qualquer religião ou prática de fé".

O chefe do Executivo municipal disse ainda ter "profundo respeito" por todas as tradições religiosas, inclusive as de matriz africana. Argumentou que a manifestação feita foi um "desabafo inevitável" diante da "perversidade de uma campanha caluniosa e rasteira" que vem sofrendo.

Por fim, admite que reações mais firmes podem surgir em contextos de ataques difamatórios sofridos, mas reitera que jamais houve "qualquer intenção de desrespeitar comunidades religiosas".

Alvo do MPCE

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) instaurou procedimento para apurar possível prática de intolerância religiosa cometida pelo prefeito de Ararendá, Aristeu Alves Eduardo.

A apuração é conduzida pela Promotoria de Justiça Vinculada de Ararendá, que informou que oficiaria o prefeito para que, no prazo de 10 dias, preste os devidos esclarecimentos sobre as declarações prestadas para elucidação do caso e adoção das eventuais providências cabíveis.