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Envelhecimento acelerado, tema do Enem 2025, muda o mapa das doenças no Brasil: câncer e condições neurológicas crescem entre idosos

Estudo mostra que o país dobrará o número de idosos em 25 anos, enquanto AVC, Alzheimer e hipertensão crescem mais rápido que a estrutura do sistema de saúde

Thiago Rodrigues
Por: Thiago Rodrigues
09/11/2025 às 18h28
Envelhecimento acelerado, tema do Enem 2025, muda o mapa das doenças no Brasil: câncer e condições neurológicas crescem entre idosos
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O Brasil vive uma transição silenciosa e profunda: a de um país jovem que envelhece rápido demais. Um estudo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) mostra que a população idosa dobrará em apenas 25 anos, um ritmo seis vezes mais veloz do que o registrado na França. Até 2031, haverá mais idosos do que crianças — um marco demográfico que desafia a estrutura social, econômica e sanitária do país.

O envelhecimento acelerado, que inspirou o tema da redação do Enem 2025 (“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”), vem acompanhado de uma mudança preocupante no mapa das doenças: as enfermidades do envelhecimento — cardiovasculares, metabólicas e neurológicas — estão crescendo mais rápido do que a capacidade do sistema de saúde de lidar com elas.

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O levantamento do IEPS, de 2023, revela que os idosos brasileiros vivem mais, mas acumulam múltiplas doenças crônicas, com destaque para hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, AVC e demências.

Essas condições já consomem boa parte dos recursos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), e a sobrecarga recai também sobre as famílias — especialmente as mulheres, que, segundo o estudo, se tornam cuidadoras e acabam afastadas do mercado de trabalho. “Estamos envelhecendo antes de nos estruturar. O desafio não é só viver mais, mas viver com qualidade e suporte”, resume o relatório.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), distúrbios como AVC, Alzheimer, enxaqueca, epilepsia e neuropatia diabética já são responsáveis por quase metade da carga global de incapacidade. O alerta ganha peso em países que envelhecem rapidamente, como o Brasil, onde o aumento da expectativa de vida amplia a exposição a esses fatores de risco. “É uma crise silenciosa de saúde pública global, e o Brasil reflete esse cenário de forma muito evidente”, alerta Maramélia Miranda, presidente da Sociedade Brasileira do AVC.

No país, o AVC voltou a superar o infarto como principal causa de morte cardiovascular desde 2019 — um reflexo direto do envelhecimento populacional somado ao controle insuficiente da pressão, do diabetes e do colesterol.

A doença de Alzheimer, que tem a idade como maior fator de risco, cresce na esteira do envelhecimento acelerado. “O que a França levou cem anos para envelhecer, o Brasil está fazendo em dez — e não estamos preparados”, explica Elisa de Paula França Resende, coordenadora de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Baixa escolaridade, hipertensão, diabetes, depressão e isolamento social agravam o risco. O Plano Nacional de Demências, embora aprovado, ainda não foi implementado. Mas uma descoberta recente, liderada por brasileiros, traz esperança: um estudo publicado na revista Nature Neuroscience mostrou que a progressão do Alzheimer depende de uma inflamação silenciosa no cérebro.

A descoberta marca uma virada na compreensão da doença e reforça a importância de identificar precocemente processos inflamatórios no cérebro, algo que poderá orientar futuras terapias combinadas.