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Pra não dizer que não falamos da Mina de Itataia

Pra não dizer que não falamos da Mina de Itataia

30/01/2014 às 17h25 Atualizada em 21/03/2020 às 14h00
Por: Thiago Rodrigues
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Foto: Reprodução
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Pois bem, essa estrutura toda terá o investimento de 860 milhões de reais, como ele bem lembrou. Isso mesmo, quase 1 bilhão de reais!
O Prefeito esqueceu de dizer, porém que, descontado os riscos ambientais, sociais e econômicos dos pequenos comerciantes que serão abocanhados pelos grandes empresários, essa soma toda é uma pechincha perto do retorno esperado pelo consórcio INB/Galvani: até 1 bilhão por ano!
Isso mesmo! Em termos técnicos, somente no primeiro ano de exploração da Mina de Itataia, o consórcio terá recuperado o investimento. Daí em diante o dinheiro, bilhões e bilhões, irão compor os cofres dos empresários e do Governo.
E o desenvolvimento econômico e social?
O Consórcio, segundo cartilhas da empresa Galvani, promete gerar 800 postos de trabalhos diretos, divididos entre Itatira, Madalena, Caridade, Canindé e Santa Quitéria, e não 4 mil, como quis o prefeito. Além de melhorias na infraestrutura de abastecimento de água, energia elétrica, educação básica, acesso rodoviário, telefonia, etc., etc., parece o céu, mas tudo isso está realmente na cartilha distribuída durante a Feira do Comércio de Santa Quitéria.
Está na cartilha e no discurso de seus aguerridos marqueteiros, mas não está no retrato de Caetité, na Bahia, onde o mesmo empreendimento foi feito, e o que vemos lá, a partir de documentário exibido pelo Tramas e a Universidade Federal do Ceará, é uma cidade saqueada, perplexa, desapropriada e cheia de traumas.
O consórcio promete ainda gerar R$ 125 milhões/ano de ICMS (Imposto sobre circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Isso é quase o dobro do orçamento de Santa Quitéria para 2014. A pressa de Fabiano Lobo e dos governantes é justificável: ver o orçamento triplicar em 1 ano é sem dúvida um benefício difícil de contrargumentar, mas a mesma pressa não é feita no aumento de impostos para a classe média quiteriense e muito menos na irrigação de plantações de pequenos agricultores. Se bem usado esse valor, em poucos anos essa cidade será uma grande potência regional. Mas o fato, é que os caeteenses também ouviram esse discurso, e o que têm hoje é uma cidade com um PIB aquém do prometido.
Em termos comparativos, a atual Santa Quitéria e Caetité (BA), o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, que é uma medida que combina uma vida longa e saudável: Expectativa de vida ao nascer, acesso ao conhecimento: Anos Médios de Estudo e Anos Esperados de Escolaridade e um padrão de vida decente: PIB (PPC) per capita, Caetité apresenta índice de 0,625; e Santa Quitéria 0,642, como quanto mais próximo do 1,0 melhor, nosso município apresenta melhor desenvolvimento nessas áreas do que a Caetité depois de tantos milhões investidos.
Ora se Santa Quitéria cheia de contrastes e desigualdade tem melhor índice em vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida decente, imagina Caetité? Talvez não por isso, o Consórcio Santa Quitéria tenha tanto medo de falar da Mina de Caetité.
Os setores oprimidos com a Mina de Itataia são os que moram nos piores bairros e nas mais longínquas comunidades, são também os que mais sofrem com a ausência de serviços públicos (saúde, educação, saneamento, transporte, etc.), os que ficam mais tempo desempregados ou subempregados, os que trabalham nas piores funções, os primeiros a serem demitidos nas crises e os últimos a serem contratados quando há crescimento, os que recebem os piores salários, etc., além de sofrerem com toda uma série de violências físicas e psicológicas, com a discriminação, o preconceito, perseguições, assédio político etc.
Em suma, o problema de Santa Quitéria não será resolvido com a Mina de Itataia. O problema é todo o sistema onde tudo está organizado na base do lucro e da supremacia do mais forte. O lucro do governo não é o lucro do povo. A mina trará riquezas e mazelas, mas nem sempre é dado a César o que é de César. E o problema de Santa Quitéria não perecerá aí, mas somente quando houver uma mudança revolucionária na forma de pensar a política, a história e a economia dessa cidade. 

Nacélio Rodrigues é técnico bancário da Caixa Econômica Federal, escritor socialista e estudante universitário. 
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