Por que tem sido tão difícil unificar o PDT depois das eleições de 2022 no Ceará? Por que uma relação tão sólida de uma aliança com o PT, que durou 16 anos, se desestruturou tão repentinamente? Por que o senador Cid Gomes tem encontrado tanta dificuldade para reunificar o partido?
Os porquês da política nem sempre tem respostas prontas e desfechos felizes. Uma das causas para tantos desentendimentos nas relações políticas está situado na raiz sentimental. Quando ambos os lados se sentem traídos e acreditam estar com a razão ao mesmo tempo, são como cristais quebrados, não voltam a ser o mesmo.
Tem sido assim com o PDT do Ceará, o grupo liderado por Ciro, Roberto Cláudio, Sarto e André Figueiredo se sentem traídos pelo ex-governador, senador e atual ministro da Educação, Camilo Santana, e nutrem um ressentimento de Cid Gomes pelo fato do mesmo ter se ausentado do pleito eleitoral de 2022. Para esse grupo, esse ressentimento fala mais alto.
Já para o grupo de Camilo, Elmano e Cid, essa aliança foi rompida por ambições pessoais e estava na cara que esse barco naufragaria da forma como foi conduzido. Esse sentimento de impotência diante da condução do barco do PDT sendo levado pela correnteza, também deixou mágoas por outro lado.
Ambos acreditam estarem certos em sua linha de pensamento, enquanto o outro lado estaria equivocado. Narrativas à parte, a missão de Cid é quase impossível em tentar unificar o PDT. André Figueiredo, sempre teve o controle do partido no estado e vai insistir na narrativa de que o partido perdeu às eleições no Ceará e por essa razão deve ficar na oposição ao PT no estado. Cid Gomes por acreditar que sempre esteve certo na sua linha de pensamento, desde a escolha dos candidatos, insiste na tese de que os outros precisam reconhecer seus erros para tocar a vida.
As reflexões de ambos os lados existem, mas, o sentimento da mágoa política fala mais alto. Não se pode separar a carga emocional do processo político.
A história aponta alguns exemplos de rachas quando ambos os lados acreditavam ser os donos da razão. Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis, na Inconfidência Mineira. Na Monarquia, quando D Pedro I, abdica do trono sob a regência de um filho. Na queda da Monarquia e ascensão da República. No impeachment mais recente, envolvendo Dilma e Temer. Um lado sempre assegura que a decisão naquele momento foi acertada e carregada de razão, enquanto o outro, se sente injustiçado e traído, por acreditar que estava com a razão. Daí a origem dos ressentimentos.
O senador Cid Gomes, com toda a liderança, com toda experiência política e com toda habilidade adquirida ao longo de uma vida pública vitoriosa, talvez esteja diante de um dos seus maiores desafios, vencer a barreira dos “sentimentos” de quem acredita “religiosamente” que estava com a razão e se sente magoado.