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A ideia fixa de Ciro e a queda do PDT do Ceará

Confira a coluna do jornalista Reginaldo Silva

29/10/2023 às 14h39
Por: Reginaldo Silva
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

A ideia fixa de Ciro Gomes de ser presidente da República pode levar o pedetista a um fim melancólico. Ninguém questiona a trajetória política de Ciro. Deputado estadual, prefeito de Fortaleza mais bem avaliado do país, governador do Ceará mais popular do Brasil, ministro da Fazenda que ajudou na conclusão e execução do Plano Real debelando a inflação no país, deputado federal, ministro da Integração Nacional que tirou do papel a Transposição das Águas do Rio São Francisco e por aí vai.

Com um QI (Quociente de Inteligência) elevadíssimo e um equilíbrio emocional sempre questionado pela classe política e jornalística do país, Ciro construiu uma biografia riquíssima, patamar conquistado apenas por um pequeno grupo de políticos brasileiros.

A ideia fixa de Ciro em chegar na presidência da República pode levar o eterno presidenciável a um fim melancólico. Ninguém na literatura brasileira falou tão bem sobre o assunto, quanto Machado de Assis. “A minha idéa, depois de tantas cabriolas, constituira-se idéa fixa. Deus te livre, leitor, de uma idéa fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho. Vê o Cavour; foi a idéa fixa da unidade italiana que o matou. Verdade é que Bismarck não morreu; mas cumpre advertir que a natureza é uma grande caprichosa e a historia uma eterna loureira”, escreveu o gênio, em Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Ciro tentou quatro vezes a presidência da República: nas três primeiras sempre deixou um fio de esperança no povo brasileiro, mas, na última eleição em 2022, o resultado foi pífio, chegando a ficar em terceiro lugar em seu próprio estado, perdendo para Jair Bolsonaro no Ceará. O resultado final caiu como uma bomba na autoestima do grupo cirista.

A política é feita de fatos e um desses acontecimentos marcantes da eleição de 2022, gerou um racha em uma aliança vitoriosa de 16 anos no estado entre PT e PDT. Cid Gomes sempre foi o responsável pela manutenção dessa aliança, ele e o irmão divergiram, porque Ciro acreditava que um palanque puro no Ceará seria um diferencial na sua candidatura nacional. Ciro seguiu com sua ideia fixa, não houve acordo, o rompimento foi anunciado, o sangue da política falou mais alto e os dois deixaram de se falar em agosto daquele ano.

Na reunião do diretório nacional do PDT desta sexta, 27 de outrubro, no Rio de Janeiro, os dois voltaram a se desentender publicamente, ampliando o distanciamento partidário e familiar.

A ideia fixa de Ciro Gomes do palanque puro no Ceará, azedou de vez a aliança histórica com o PT, a relação com o irmão e a divisão do grupo pedetista no estado. Só Ciro enxergava a possibilidade de chegar na presidência da República em um cenário político dominado apenas por dois polos antagônicos, lulistas e bolsonaristas.

Ciro merecia encerrar sua carreira política como senador da República e contribuir com o país, a exemplo do que fez o ex-senador Tasso Jereissati. Mas, Ciro não conseguiu se libertar da ideia fixa da presidência da República, rompendo até com o irmão. Naquela ocasião, Cid Gomes enxergava nitidamente aquele cenário nacional e seus desdobramentos no estado, apenas tentava proteger o irmão, apontando que aquela atitude poderia levar a ruína todo um projeto já em andamento no Ceará.

Ciro não entendeu a mensagem e após a eleição seguiu sua sanha, rompendo com os antigos aliados no Ceará, que não adotaram sua linha de pensamento. Agora, rompido até com o irmão e sem condições de se recompor em seu estado, Ciro caminha para um isolamento em seu berço político. Se o projeto de reeleição de José Sarto der certo, ele ainda ganha uma sobrevida, caso contrário, caminha para um fim melancólico, assim como Cavour.

Reginaldo Silva
Sobre o blog/coluna
Reginaldo Silva é professor, radialista e jornalista.
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