Outro dia estava em uma roda de conversa com amigos próximos do meio político e afirmei que Bolsonaro não entregaria seu patrimônio político a ninguém. Também defendi que ao fim e ao cabo, o PL lançaria candidaturas ao Governo e ao Senado no Ceará.
Não se trata de ser um vidente, é que política parece final de novela. Em determinados momentos da trama, alguns sinais são emitidos para prender a atenção do público e sugerir um determinado desfecho, no entanto, no capítulo final, revela-se o óbvio, aquilo que saltava aos olhos e ninguém queria enxergar.
Voltemos ao fato político mais relevante da semana. André Fernandes declarou em alto e bom som, que o PL no Ceará terá candidatura própria ao Governo e ao Senado. Engana-se redondamente que achar que ele está blefando para negociar alguma coisa no futuro. André é Bolsonaro raiz, fiel ao bolsonarismo e tem certeza que essa relação de lealdade é recíproca
Alguém aí recorda da resposta de Bolsonaro, por ocasião de sua última visita ao Ceará, quando a imprensa indagou a ele na saída de um restaurante se ele autorizava a aproximação com o ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes. Pois é, ele foi lacônico e direto: “conversa com o André”.
Poucos dias depois veio o anúncio de que o partido no estado seria comandado por André Fernandes, ou seja, a senha foi dada, a fidelidade de André a Bolsonaro e ao bolsonarismo o credenciou a tomar o comando da legenda, pois ambos, estão conectados em ideias e pensamentos.
Outro ledo engano da oposição é achar que o PL sob o comando de André Fernandes vai apoiar alguém que não faça uma defesa intransigente da anistia de Bolsonaro e ainda critique abertamente as decisões de Alexandre de Moraes. A situação é parecida com aquela peça publicitária do “Gelol” do genial Duda Mendonça: “não basta ser pai, tem que participar”, ou seja, neste caso, não basta dizer que é aliado, é preciso participar da defesa do líder e das causas bolsonaristas.
As críticas de Ciro que tratam Lula e Bolsonaro como “gêmeos univitelinos” tem causado imenso desconforto no bloco ligado ao bolsonarismo raiz, é inaceitável para direita ouvir ataques contra o símbolo maior da legenda vindo de um possível aliado.
O anúncio de André Fernandes descartando o apoio a Ciro Gomes e ao ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, em eventual disputa ao Governo do Ceará e anunciando que o PL terá candidatura própria, veio na esteira de um vídeo divulgado por Ciro Gomes em suas redes sociais, que faz críticas a Lula sobre o tarifaço de Trump, imposto de 50% do governo americano aos produtos brasileiros, e ainda classifica de “tremenda burrice dos Bolsonaros”, a postura da família neste episódio que prejudica o comércio do país.
É obvio que tem muita coisa para acontecer daqui para as eleições do próximo ano, mas, existe uma certeza neste cenário político: é ilusão achar que se tem (ou se terá) apoio do PL no Ceará sem a defesa enfática do nome de Bolsonaro e a crítica implacável à Alexandre de Moraes. O recado está dado.