
Depois que Bolsonaro chegou ao poder, houve uma mudança generalizada no comportamento eleitoral do país. Instalou-se um clima de beligerância e de campanha ininterrupta. O confronto direto e contínuo contra adversários se manteve não apenas no período eleitoral, mas também durante o exercício do governo.
Foi assim com Bolsonaro e está sendo assim com Lula. Essa batalha eleitoral intensiva interessa a quem está no poder e a quem lidera o bloco de oposição.
Vivemos em um país que a batalha constante interessa tanto a direita quanto a esquerda, quem apostar no modelo “nenhum, nem outro” a exemplo de Ciro Gomes e de seu marqueteiro João Santana em 2022, corre o risco de amargarem uma derrota vexatória.
As últimas declarações do Clã Bolsonaro também apontam o que vem por aí. Eduardo Bolsonaro declarou recentemente que agora “É hora do tudo ou nada. Ou é 100% vitória ou 100% derrota”.
Já hoje, o senador Flávio Bolsonaro declarou ao jornalista Paulo Capelli que, manter Tarcísio de Freitas no comando do Palácio dos Bandeirantes é estratégico, para ampliar a votação da direita à Presidência da República no estado de São Paulo, ou seja, Tarcísio não seria o nome da família Bolsonaro.
Essa declaração representa o óbvio para as eleições nos estados em 2026. O ex-presidente não deve apoiar ninguém fora do clã familiar e vai mirar o Senado e a Câmara Federal. Portanto, o PL precisa se manter vivo no cenário político do ano que vem, para manter viva a chama do ex-presidente. É uma questão de sobrevivência da direita bolsonarista e esse patrimônio dificilmente deve ser entregue a outrem.
Assim, no Ceará, André Fernandes deve seguir a mesma lógica da eleição municipal de Fortaleza. Não houve união do bloco de oposição no primeiro turno das eleições. Capitão Wagner, José Sarto e André Fernandes foram para disputa contra o candidato petista, Evandro Leitão, que acabou vencendo a eleição no segundo turno.
Em 2026, André Fernandes, a pedido do clã Bolsonaro deve repetir a estratégia na eleição para o Governo do Ceará, lançar nomes para o Governo e para o Senado com o objetivo de fortalecer o bolsonarismo no estado. A missão é fazer uma vaga para o Senado, nova trincheira de interesse de Bolsonaro, com foco em barrar ou até mesmo reverter nomeações ao STF, se necessário.
A estratégia para 2026 vai ficando cada vez mais clara, o maior empecilho para unidade do bloco de oposição no Ceará é a polarização entre direita e esquerda no país, por essa razão, Ciro também tem se voltado para o cenário estadual, porque ele, mais do que ninguém, sentiu na pele a dificuldade de furar essa bolha, razão pela qual se mantém em silêncio depois da declaração de André Fernandes, de que não apoiaria nem ele e nem Roberto Cláudio no ano que vem.
Tanto a oposição quanto a base governista no Ceará tem suas ”chapas dos sonhos”, mas ambas, se esbarram na questão nacional.
Essa polarização é só um nome bonito que encontraram para definir uma guerra ideológica, com contornos econômicos e geopolíticos que afeta o mundo inteiro, e nós, cearenses, não estamos imunes a ela.
O cenário político atual parece ter saído das páginas de Quincas Borba, de Machado de Assis, onde vencer, significa sobreviver. “Ao vencedor, as batatas!”