
Não acredito que os números da Real Time Big Data tenham captado a fotografia do momento político do Ceará. Explico: Os dados levantandos não conseguiram registrar a amplitude do impacto das declarções de Michelle Bolsonaro no lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão e seus desdobramentos. O ato político foi realizado no dia 30 de novembro, nos dias 2 e 3 de dezembro.
A declaração de Michelle vetando à candidatura de Ciro reverberou no país inteiro durante toda a semana, causando instabilidade na direita cearense, deixando apreensivas as lideranças do campo bolsonarista que agurdavam pelo seu desfecho.
Por mais que tenha sido grande a repercussão do fato político envolvendo a direita no Ceará, a informação não foi maturada o suficiente para a formulação de juízo de valor do eleitor cearense, ou seja, no bom “cearencês”, a água da cacimba ainda estava toldada.
É preciso mais tempo para verificar o tamanho real de Eduardo Girão nesse jogo e se há tendência de crescimento. Assim como é preciso analisar se haverá tendência de queda para Ciro Gomes em meio ao tiroteio que recebeu de Michelle Bolsonaro e com a suspensão das negociações de apoio que estavam em andamento com a direita.
Pesquisa aponta o retrato do momento e é preciso cautela na leitura, embroa todo levantamento de dados seja relevante. Na base governista, Elmano recebeu a visita do presidente Lula no Ceará e fez anúncios de investimentos bilionários para o estado, esse efeito também não foi captado pelos números da Real Time Big Data, embora tenham ocorrido na mesma semana.
O levantamento aponta um empate técnico entre elmano e Ciro na casa dos 40%. Quando se tira o nome de Ciro da corrida eleitoral, Elmano fica com 42% e, curiosamente Roberto Cláudio fica com 26% e Eduardo Girão com 16%, somando 42% dentro do bloco de oposição.
A pesquisa pode não ter captado os impactos dos fatos políticos do momento, contudo, mostra uma tendência a longo prazo, um equilíbrio de forças na casa dos 40%, tanto para situação quanto para oposição, logo, se leva à conclusão de que 11% do eleitorado mais volátil deverá decidir a eleição.
Esse equilíbrio de forças também se revela nos nomes que postulam uma vaga para o Senado: Guimarães, Eunício, Chiquinho Feitosa, Priscila Costa, Alcides Fernandes, Júnior Mano, Roberto Cláudio e General Teophilo. Nenhum deles desponta como franco favorito, o governo evita ruídos para não provocar desgaste na base e paira dúvidas e incertezas no bloco de oposição. A tendência é que haja uma nacionalização na disputa para o Senado.
Enquanto isso, Ciro segue em silêncio, sem dizer que é candidato, com vontade de enfrentar a disputa, mas estudando o cenário com a frieza de Sun Tzu, que faz todos os cálculos possíveis antes de entrar na guerra. Ciro não tem mais idade para perder uma eleição e, no seu estado, o efeito seria devastador.
Elmano tem uma aprovação de governo de 54%, mas existe uma força oculta e interna que o impede de avançar, mesmo fazendo investimentos bilionários no estado. Elmano e Ciro, os principais nomes dessa disputa, tentam fechar o ano enquanto aguardam os trovões de janeiro.
Girão, por sua vez, tem dado pistas de que ganhar ou perder é um mero detalhe diante de princípios e valores que norteiam sua pré-candidatura, portanto, ele deve ir para o jogo, independentemente de quem sejam seus adversários.
No fim das contas, a política cearense segue com números que não explicam tudo, lideranças que dizem pouco e silêncios que dizem muito. Shakespeare tinha razão, “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.